sexta-feira, 11 de março de 2016

Violência doméstica adoece população no Ceará


Nos 50 primeiros dias deste ano, a quantidade de pacientes que deu entrada em unidades de saúde do Ceará e foi notificada como vítima de violência doméstica superou o total de pessoas que também acessou os equipamentos e foi diagnosticado com as chamadas doenças de notificação compulsória, como dengue, hanseníase, hepatite, tétano, tuberculose e HIV/Aids. Neste ano, até a 7ª semana epidemiológica, a média de notificações por violência doméstica é de 67 ocorrências por dia no Ceará. Devido ao potencial de disseminação, os casos são encarados como um problema de saúde pública.



Capital notifica casos de agressão sexual

São crianças que apanham pais, idosos explorados e até espancados por filhos e netos, mulheres estupradas e/ou agredidas física e psicologicamente por namorados e maridos, dentro das próprias residências. Vítimas que se tornam pacientes e têm demandado cada vez mais serviços multiprofissionais nas unidades de saúde do Estado.

Registros

A situação é recorrente e, desde 2011, a violência doméstica, caracterizada como um agravo - dano à integridade física ou mental do indivíduo, provocado por circunstâncias externas - é notificada compulsoriamente no Ceará. Ou seja, todos os profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros e odontólogos, dentre outros, ao atenderem algum paciente em que haja suspeita de que o mesmo tenha sofrido violência doméstica, devem registrar oficialmente esta situação.



Com o caso contabilizado, as secretarias municipais e estaduais de saúde são notificadas e, posteriormente, o episódio é remetido ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. Após o atendimento, os pacientes devem ser encaminhados à rede de acompanhamento e às autoridades responsáveis.

No Ceará, desde o dia 19 deste mês, a Secretaria da Saúde (Sesa) tem divulgado os dados referentes a 22 tipos de doenças e agravos de notificação compulsória. No total, o Ministério da Saúde lista 48 patologias e agravos que devem ser enquadrados nesse tipo de procedimento.

Conforme o último boletim divulgado pela Sesa, no dia 24 de fevereiro, até o dia 20 deste mês, foram notificadas 3.440 ocorrências de pacientes atendidos em unidades de saúde vítimas de violência doméstica. No últimos três anos, o número cresceu 47,5%, no período semelhante. Em 2013, até a 7ª semana epidemiológica, segundo a Sesa, foram 2.331 notificações.

Neste ano, os casos de dengue, hanseníase, hepatites (tipos B e C), tétano, tuberculose e HIV/Aids registrados até o dia 20 de fevereiro, somados, totalizam 465 notificações. Dos 184 municípios cearenses, 87 tiveram notificações de casos de atendimento de pacientes vítimas de violência doméstica, neste período. Desde o dia 18 deste mês, a notificação dos casos suspeitos de zika passou a ser obrigatória.

Subnotificação

A supervisora do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Coordenadoria de Promoção e Proteção à Saúde da Sesa, Daniele Rocha Queiroz, explica que, apesar de alto o número de registros, ainda há subnotificação.

"Qualquer tipo de violência traz danos irreversíveis e é fundamental que a violência doméstica seja encarada como um problema de saúde pública. Com os números que temos hoje, não podemos considerar que é uma epidemia. Mas há um aumento progressivo de notificação, ano a ano, e sabemos que muitos casos ainda não chegam às unidades", ressalta a supervisora.

Daniele explica que, em 2010, o Ministério da Saúde lançou uma "Linha de Cuidado" que orienta de forma pedagógica o trabalho dos profissionais de saúde nas ações de prevenção da violência e promoção da saúde. Segundo ela, a comunicação à autoridade competente "deverá ser feita por qualquer profissional que componha a equipe e que tenha identificado a situação de violência em um dos grupos prioritários". Além disso, a notificação compulsória, de acordo com a supervisora, garante o seguimento do paciente na rede, de maneira a tentar eliminar a situação de violência.

Capacitação profissional

"Esse número alto é o que chega. Imagine o que não chega? É algo muito superior e um problema muito sério para a saúde", avalia o doutor em Saúde Coletiva e professor do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Gomes Bezerra Filho.

O médico ressalta, ainda, que o impacto desse tipo de demanda no sistema de saúde tem sido grande. "Nos serviços de urgência e emergência, as causas externas representam 70% dos procedimentos. As unidades que foram construídas para problemas vasculares e doenças intestinais, por exemplo, hoje são reorientadas para o atendimento de vítimas da violência", garante.

O professor também argumenta que os profissionais da saúde nem sempre estão habilitados ao acompanhamento dessas ações e este é um dos entraves. Além disso, José Gomes explica que boa parte dos pacientes que sofrem violência não procuram as unidade de saúde por conta das agressões. "Eles chegam para tratar patologia infecciosa, por exemplo, e o profissional de saúde percebe, na conversa, no exame clínico, ou em outro procedimento que aquela situação deriva da violência sofrida. Por isso é necessário a sensibilidade para realizar a notificação", reforça o médico.


Para denunciar:

Violência contra Crianças e Adolescentes:

-Disque 100

Violência contra a Mulher:

- Disque 180 ou Delegacia da área

Violência contra Idosos:

- Disque 100

- Promotoria do Idoso

(85) 3252-6352

Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br

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